terça-feira, 22 de abril de 2014

CULTURA AFRICANA NO BRASIL



CULTURA AFRICANA NO BRASIL

Aparecida Vera dos Santos Pinguelli

“Nós, professores, somos, na verdade, contadores de história. Contamos a história da humanidade para nossos alunos. Só que a história que nós contamos não é a história de um só povo. Temos a missão de contar a história de muitos povos, em tempos diferentes, e que também tiveram modos diferentes de viver”.
Lopes, 2001.

            Neste trabalho procurou-se destacar a Cultura Africana com ênfase a influencia que esta cultura teve sobre a linguagem brasileira e o surgimento de algumas religiões no Brasil, através de junção do catolicismo com a religião Africana. Levar ao aluno mais conhecimento sobre a cultura africana, fazendo com que o aluno perceba a importância desta sobre a formação do povo brasileiro, e sintam participantes desta cultura. Para a organização do trabalho buscou-se fundamentação no livro didático: Por Dentro da Historia, do autor Pedro Santiago, artigos da revista África e Africanidades publicada em Maio/2011 edição nº 14; Revista Raça Brasil publicada em maio/2006; Introdução ao estudo da Língua Portuguesa no Brasil do autor Neto Silva. 
Levar a cultura e a história da África e dos afro-brasileiros para as escolas do país está previsto pela lei 10.639, desde 2003. O processo, entretanto, vem gerando dramas, revelando preconceitos arraigados, como também produzindo maravilhas dentro das escolas de um país contemporâneo, que termina a primeira década do século XXI com 50,6% da população constituídas de pretos e pardos, mas que ainda mantém, até mesmo dentro das escolas, barreiras para valorizar a identidade cultural e a história desta parcela da população. A mesma, cujos antepassados ergueram com trabalho escravo as bases do país e que, com sua cultura, contribuíram para uma identidade nacional das mais originais.          
O entre cruzamento de africanos, portugueses e índios, entre os séculos XVI e XVIII, consolidou a estrutura genética da população brasileira. Toda a construção da economia litorânea no Brasil, inclusive o desenvolvimento de sua vida urbana, se deve ao mulato, mestiço de negro e ao branco. Porém, a contribuição do negro para a cultura brasileira vai além da povoação e da prosperidade econômica através do seu trabalho. Vindos de diversas partes da África, os escravos negros trouxeram suas matrizes culturais e transformaram não apenas a sua religião, mas todas as suas raízes em uma cultura de resistência social. Aqui vamos abordar rapidamente aspectos dessa influência, lembrando que ela é muito ampla e profunda e nem sempre percebida, de tão arraigada que está no nosso cotidiano.

Contribuição na linguagem  

Os africanos, na ausência de uma unidade lingüística, já que provinham de diferentes povos, foram praticamente obrigados a criar uma em comum para que pudessem se entender. O português é africanizado principalmente por conta da influência das línguas de origem bantu (ou banto) – região da qual foi retirada, à força, a maior parte dos negros escravizados que para cá foram trazidos nos primeiros séculos da Colônia. Diferente, portanto, da difundida idéia que entende o iorubá como “a” língua africana.
Varias palavras africanas que foram apropriadas pela língua portuguesa em diversas áreas culturais, conservando a forma e o significado originais: samba, xingar, muamba, tanga, sunga, jiló, maxixe, candomblé, umbanda, berimbau, maracutaia, forró, capanga, banguela, mangar, cachaça, cachimbo, fubá, gogó, agogô, mocotó, cuíca, lenga-lenga, Ganga Zumba, Axé.
          Algumas palavras do português que tomaram um sentido especial: por tradução direta de uma palavra africana, mãe-de-santo (ialorixá), dois-dois (ibêji), despacho (ebó), terreiro (casa de candomblé);
          Palavras compostas de um elemento africano e um ou mais elementos do português: bunda-mole, espada-de-ogum, cafundó de Judas. Também nessa categoria estão os derivados nominais em português, a exemplo de molecote, molecagem, xodozento, cachimbada, forrozeiro, sambista, encafifado, capangada, caçulinha, dengoso, bagunceiro.



Contribuição na religião


As religiões chamadas afro-brasileiras surgiram durante o processo de colonização do Brasil, com a chegada dos escravos africanos. Os cultos afro-brasileiros vêm da prática religiosa das tribos africanas. Por isso, cada uma tem a sua forma peculiar de chamar o nome de Deus, promover seus cultos, estruturar sua organização, celebrar seus rituais, contar sua história e expressar as suas concepções através dos símbolos.
  Na tentativa de catequizar os negros, os europeus promoveram uma grande mistura que hoje são chamadas de religiões afro-brasileiras, como a Umbanda e o Candomblé, fruto da inter-relação de culturas. Alguns povos bantos eram adeptos do candomblé e foram seus introdutores no país. Atualmente, existem poucas casas de candomblé puro no Brasil, concentradas principalmente na Bahia. Por outro lado, o candomblé de caboclo e a cabula, outra variante do candomblé, tornaram-se as raízes remotas do umbanda, o mais difundido culto afro-brasileiro, no Rio de Janeiro. Para resistir, o negro buscou, através de formas simbólicas, alternativas que camuflassem seus deuses a fim de preservá-los da imposição da igreja católica. Assim, o sincretismo (Fusão de elementos culturais diferentes) foi uma forma de defesa do negro e não a incorporação da religião negra à religião predominante.

Exemplo de sincretismo: Festa do Senhor do Bonfim, em Salvador: Nessa festa popular, misturam-se as heranças culturais dos escravos trazidos para o Brasil e as tradições religiosas dos colonizadores portugueses.
Em diferentes momentos da história, aos poucos, as religiões afro-brasileiras foram se formando nas mais diversas regiões e estados. É justamente por isso que elas adotam diferentes formas e rituais, diferentes versões de cultos. A fé nos orixás se misturou à fé nos santos católicos e o resultado disso tudo é o jeito brasileiro de praticar a religião.


Contribuição na Musica e Dança
A Musica e a Dança da Cultura Africana tiveram muita influencia na cultura brasileira, podemos destacar alguns ritmos muito conhecido pela sociedade como: o samba, o pagode e o batuque. Estas culturas,  a musica e a dança e muito presente na vida dos africanos, uma vez que todos os acontecimentos na vida dos africanos como: nascimento, plantio, colheita, saúde, felicidade e ate mesmo a morte e motivo para comemoração com muita musica e principalmente dança.
Buscou-se fundamentação teórica no livro Capoeira Angola – Ensaio Socio-Etinografico do autor Waldeloir Rego, e a revista África e Africanidades, e também em sites.
O negro deu seu ritmo à música brasileira e também lhe deu nomes, como chorinho ou samba. Por isso se diz que a música popular brasileira nasceu na África. A raiz negra está em tudo: no samba, no pagode, no afoxé, nas festas folclóricas como a do maracatu. Além dos ritmos, os africanos trouxeram também instrumentos, como o berimbau, a cuíca e outros instrumentos de percussão, como o berimbau.
O samba era chamado pelos angolanos de semba. Esse gênero musical foi se transformando, ganhou novos instrumentos, chegou ao Rio de Janeiro e atualmente é característico de todas as regiões brasileiras.
Segundo Rego (1968) “do batuque dos povos bantos de Angola e do Congo originaram-se os principais ritmos e danças do Brasil e das Américas, como o Samba e o Jongo”.
O conhecimento de alguns músicos negros, pioneiros da chamada música popular brasileira, como José Antônio da Silva Callado e Pixinguinha.  Foi Carmem Miranda, uma mulher branca, a eleita "Rainha do Samba". Não por acaso. Sabe-se que a artista divulgava a música de artistas negros, quando eles não conseguiam trabalho. Sabe-se ainda, por sua insistência e influência muitos artistas negros saíram do anonimato para subir aos palcos, incluindo nesse grupo grandes nomes como Dorival Caymmi e Sinval Silva, motorista de Carmem e autor do clássico "Adeus Batucada".  Depois deles, vários artistas negros despontaram no hip-hop, rap ou samba com a deliberada intenção de despertar o orgulho negro entre os jovens.

                                                                                                         Capoeira
Um jogo de destreza trazida para o Brasil pelos escravos africanos, a qual era usada tanto para defesa pessoal como para diversão. Mistura de dança, luta e música, a capoeira também surgiu com os negros, que a utilizavam como arma de defesa. Durante a escravidão, reuniam-se em roda depois do trabalho para cantar, dançar, jogar capoeira ou reverenciar com música os seus orixás. Batiam palmas, batucavam, reviviam suas tradições. E assim a música negra se afirmava em meio a tanto sofrimento. Os escravos misturavam instrumentos musicais, dança e luta, enganando seus Senhores de Engenho, que pensavam estarem eles apenas "dançando". A capoeira sofreu repressão por grande parte das autoridades policiais e também os senhores de engenho perseguiam os escravos praticantes de capoeira, porque a atividade dava ao capoeirista um sentido de nacionalidade, individualidade e auto-confiança, formando grupos de jogadores ágeis e perigosos e também porque, às vezes, no jogo, os escravos se machucavam, o que era economicamente indesejável. O capoeirista era considerado um marginal, um delinqüente. O Decreto-lei 487 acabou temporariamente com a capoeira, mas os negros resistiram até a sua legalização.
Mas, as coisas mudaram em fins da década de 30 do século passado. Quando o capoeirista chamado Manuel dos Reis Machado, Mestre Bimba foi convidado por Juracy Montenegro Magalhães, a ir ao Palácio do Governo baiano. Mestre Bimba ficou assustado, achou que seria preso!  Para sua surpresa, o governador queria que se apresentasse com seus alunos para mostrar "a nossa herança cultural" para amigos e autoridades no Palácio do Governo. 
Em 09 de julho de 1937, Mestre Bimba conseguiu o registro de sua Academia, a primeira reconhecida no país. Nesse ano, inicia-se a ascensão sócio-cultural da capoeira, que volta ao cenário cultural, estando presente na música, nas artes plásticas, na literatura, nos palcos...  Em 15 de julho de 2008 a capoeira foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro e registrada como Bem Cultural de Natureza Imaterial.
Segundo a professora Carla Yahn.
Ela não deve ser reduzida à luta (arte marcial), mesmo com sua grande eficiência como tal, ela também não deve ser reduzida à dança folclórica e muito menos a teatro de rua, pois, antes de tudo, ela funciona desde seu surgimento no Brasil como manifestação cultural de raiz africana que busca a liberdade de expressão, técnicas de defesa e ataque como forma de resistência ao opressor e funciona também como um espaço onde os capoeiristas podem transcender mediante a realidade em que vivem. (YAHN, 2009, p. 2)

Contribuição na Culinária

Para finalizar o tema Cultura Africana no Brasil,uma vez que já mencionado: a linguagem, a religião, a musica e a dança, agora a culinária.
Buscou-se fundamentação no livro Por Dentro da Historia do autor Pedro Santiago, artigo publicado na Revista África e Africanidades publicada em novembro 2009, no site: http://racabrasil.uol.com.br/Edicoes/115/artigo64733-1.asp, e em diversos sites. Sempre procurando levar a sociedade mais conhecimento a cerca da cultura africana um legado deixado de herança pelos escravos africanos para os brasileiros.
É impossível falar da influência dos africanos sem lembrar a herança que eles deixaram para a nossa alimentação. Acarajé, mungunzá, farofa, vatapá são pratos originalmente usados como comidas de santo, ou seja, comidas que eram oferecidas às divindades religiosas cultuadas pelos negros. Hoje, porém, são representantes da culinária brasileira.
As negras africanas começaram a trabalhar nas cozinhas dos Senhores de Engenho e introduziram novas técnicas de preparo e tempero dos alimentos. Também adaptaram seus hábitos culinários aos ingredientes do Brasil. Assim, foram incorporados aos hábitos alimentares dos brasileiros o angu, o cuscuz, a pamonha e a feijoada, nascida nas senzalas e feita a partir das sobras de carnes das refeições que alimentavam os senhores; o uso do azeite de dendê, leite de coco, temperos e pimentas; e de panelas de barro e de colheres de pau.


CURIOSIDADE  
...Os traficantes de escravos também trouxeram para o Brasil ingredientes africanos? É o caso da banana, e da palmeira de onde se extrai o azeite de dendê. Enfim... todos o pratos vindos do continente africano foram reelaborados, recriados, no Brasil, com os elementos locais.
....O dendê trazido pelos portugueses para queimar em lamparinas e iluminar as noites escuras do novo continente logo foi parar na panela das mucamas.
Os negros escravos tiveram muita habilidade em improvisar receitas, mesclando ingredientes da cozinha indígena e portuguesa, uma vez que os alimentos eram escassos não tendo o suficiente para todos se alimentarem nas senzalas. Os Escravos se vêem obrigados a reinventar sua culinária, pois foram trazidos da África para o Brasil sem nenhuma bagagem, tão pouco ingredientes culinários, ao chegarem na nova terra, tiveram que se adequar a realidade.
A mistura das tradições indígenas, européias e africanas nos deu uma variedade incontável de delícias para se esbaldar. Sabe-se da importância dos índios e europeus na culinária, mas uma das contribuições mais importantes aos nossos hábitos alimentares, foi aquela que veio da África, trazida pelos escravos. Se os comerciantes de escravos traziam as especiarias, os escravos traziam na memória os usos e os gostos de sua terra. Era aí que estava o segredo. O modo africano de cozinhar e temperar incorporou elementos culinários e pratos típicos portugueses e indígenas, transformando as receitas originais e dando forma à cozinha brasileira. E em meio as dificuldades vão surgindo pratos muitos saborosos que no decorrer do tempo vão se tornando tipicamente brasileiros, como e o caso da feijoada, que hoje e considerada o prato nacional brasileiro.   
Da culinária portuguesa vieram, por exemplo, as galinhas e os ovos. Da culinária indígena, tínhamos a mandioca, frutas e ervas. E da culinária africana podemos destacar azeite-de-dendê, sal, cebola, camarões, pimenta, coco, banana, café, quiabo, gengibre, amendoim, melancia e o jiló.

“Respeitar as diferenças é um dos princípios básicos da democracia. Cada povo, cada raça, cada cultura tem identidade própria, peculiaridades que resistem à globalização da economia e da comunicação. A construção de uma sociedade mais justa e feliz ocorre no cotidiano das pessoas com a prática de atitudes positivas em todas as relações humanas, sejam elas familiares profissionais ou comunitárias”.
Alexandre Miguel de Souza – Web Designer


REFERENCIAS:

GUERRA, Denise. Danças brasileiras de matriz africana. Revista África e Africanidades. Edição nº 4. Fev.2009.

PELLEGRINI, Marco César.DIAS, Adriana Machado. GRINBERG. Keila. Vontade de saber história, 7º ano.1.ed. São Paulo. FTD, 2009.

RANZANI, Juliana. Culinaria afro-brasileira. Revista Africa e Africanidades. 2009.

REGO, Waldeloir. Capoeira Angola - Ensaio Sócio-Etinografico. Bahia: Itapoá, 1968.
SANTIAGO, Pedro, Por Dentro da Historia. Editora Escala Educacional, São Paulo. 2006.

SILVA NETO, S. da. Introdução ao estudo da Língua Portuguesa no Brasil. Rio de Janeiro: Presença, 1963.

YAHN, Carla Alves de Carvalho. Capoeira angola e literatura popular: marcas da tradição oral afro-brasileira. Revista África e Africanidades . Edição nº 6. Agosto. 2009.

SITES:
http://brasilfolclore.com.br  acesso em 04/04/2014.
http://racabrasil.uol.com.br acesso em 05/04/2014.
http://www.racabrasil.uol.com.br acesso em 15/04/2014.


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